Os pronomes pessoais substituem os substantivos e servem para se referir à pessoa (1ª, 2ª ou 3ª) do discurso. Por exemplo, na fábula A cega e a negra, de Miriam Alves, podemos identificar o pronome pessoal do caso reto e também o oblíquo (átono ou tônico) nas partes destacadas a seguir:

“Observava a aranha em suas peripécias acrobáticas. Pendia do teto num estranho equilibrismo. O fio que sustentava era tênue, invisível. Os olhos hipnotizados acompanhavam o sobe e desce do inseto. Às vezes, a pequena aranha, como a provocá-la [pronome oblíquo átono], descia próximo a sua cabeça e, com movimentos rápidos e graciosos, retornava, aproximando-se [pronome oblíquo átono] do teto. Poderia ficar ali por horas, dias, meses a fio. Ela [pronome reto] e a aranha tecendo fios infinitos, brincando com a gravidade. Cecília tecendo fios invisíveis, a aranha fabricando fios reais.”

Citação 1. Fonte: http://www.letras.ufmg.br/literafro/autoras/24-textos-das-autoras/986-miriam-alves-a-cega-e-a-negra-uma-fabula

Vamos exercitar

Sobre o período, “Às vezes, a pequena aranha, como a provocá-la, descia próximo a sua cabeça […]”, tente responder as perguntas abaixo (clique sobre elas para ver as respostas):

A aranha parece provocar a personagem Cecília. Em “provocá-la” o pronome “la” substitui o nome “Cecília”. Podemos reescrever a frase para: Às vezes, a pequena aranha, como a provocar Cecília, descia próximo à cabeça dela (de Cecília).

Perceba que o nome da personagem só é revelado no final do texto: “Cecília tecendo fios invisíveis, a aranha fabricando fios reais”.

Quem se aproximava do teto era a aranha, como é possível perceber, de forma mais clara, no fragmento abaixo:

“Às vezes, a pequena aranha […] retornava, aproximando-se do teto.”

No caso acima, o “se” é um pronome reflexivo, em que a ação (de aproximação) da aranha (no teto) reflete nela mesma.

No fragmento da fábula, percebemos que o texto faz referência à personagem Cecília (revelada no final) e também à aranha, em:

  • “provocá-la” (a aranha provoca Cecília)
  • “aproximando-se (pronome reflexivo em que a ação da aranha em se aproximar do teto reflete nela mesma)

Veremos, abaixo, o que caracteriza o pronome reto e o pronome oblíquo e seus usos.

Pronome Reto

Os pronomes do caso reto concordam em número (singular ou plural), gênero (feminino ou masculino, na 3ª pessoa) e em pessoa (1ª, 2ª ou 3ª), conforme percebemos na tabela:

PessoaSingular (Número)Plural (Número)
EuNós
TuVós
Ele/Ela (Você)Eles/Elas (Vocês)
Pronomes pessoais do caso reto

Na prática

Segundo a norma do português-padrão, não se recomenda usar os pronomes do caso reto como complementos verbais, para evitar a ocorrência de cacofonia (quando se produz, no contexto da frase, um som ambíguo ou estranho). De modo que a norma-padrão orienta o uso dos pronomes oblíquos para evitar a pronúncia indesejada. Por exemplo:

Pronome reto como complemento verbal

“Eu vi ela , ontem, na universidade.” (uso não padrão, com cacofonia)
Vi: verbo “ver” na 1ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo.
Ela: pronome na 3ª pessoa do caso reto.

Explicação:
A cacofonia na construção “Eu vi ela” ocorre por causa da semelhança sonora, na pronúncia de “vi ela”, com a palavra “viela”, substantivo feminino que é recorrentemente associado ao significado de rua estreita ou travessa.

Porém, embora provoque cacofonia, o pronome do caso reto como complemento verbal é corriqueiramente usado por falantes nativos de algumas regiões do Brasil.


Uso do pronome oblíquo para evitar cacofonia

Nas situações mais formais, em que se segue a orientação do português-padrão, o pronome oblíquo pode ser empregado, para evitar a cacofonia, da seguinte forma:

Eu a vi, ontem, na universidade. (mais usual)
ou
Eu vi-a, ontem, na universidade. (menos usual, pois ainda provoca ambiguidade, em que “vi-a” pode ser confundida com a palavra “via”, esta que possui o significado de caminho, lugar por onde se passa; ou o verbo “ver” na 1ª (eu) ou 3ª (ele) pessoa do singular do pretérito imperfeito do indicativo.

Pronome Oblíquo

Os pronomes oblíquos são mais empregados em textos formais ou em que o(a) autor(a) os utiliza por opção estética. Por isso, na fábula A cega e a negra, por se tratar de um texto literário que se propõe seguir as orientações da norma do português, há o emprego constante do pronome oblíquo, conforme as partes destacadas na citação abaixo. Nessa parte do conto, Cecília pensa em Flora, ou Floresta Brasileira, nome da mulher (com deficiência visual) contra quem havia esbarrado ao entrar em um banco (agência bancária).

Abriu os olhos, a aranha tecia. Um fio branco saído de suas entranhas unia-se a outros fios. Cecília igualou-se àquela criatura. Um estranho destino as unia naquele espaço. Pensou em Flora. Chamava-a assim por nunca ter entendido o porquê do nome Floresta Brasileira que lhe deram. Quando se apresentaram, guardou um sorriso de deboche e de curiosidade, segurando a pergunta: por quê? Floresta a intrigava por causa da forma com que via o mundo. Via? Floresta não via, era cega. Movimentava-se nos espaços como se os soubesse por definição. Flora e Cecília, um dia o acaso as colocara frente a frente.

Citação 2. Fonte: http://www.letras.ufmg.br/literafro/autoras/24-textos-das-autoras/986-miriam-alves-a-cega-e-a-negra-uma-fabula

Vamos exercitar

Agora, tente identificar a quem os pronomes destacados fazem referência (clique sobre as frases para ver as respostas), em:

“se” refere-se ao próprio fio branco, pois é um pronome reflexivo.

“se” refere-se à própria Cecília, pois é um pronome reflexivo.

“as” refere-se a Cecília e Flora.

“a” e “lhe” referem-se a Flora.

“se” refere-se a Cecília e Flora, pois ambas se apresentaram a si mesmas.

“a” refere-se a Cecília.

“se” refere-se a Flora e “os” aos espaços.

“as” refere-se a Cecília e Flora, pois o acaso colocou a ambas frente a frente.

Os pronomes oblíquos são divididos em átonos (sem a preposição) e tônicos (acompanhados de preposição).

Perceba

Pronome Oblíquo Átono

Na citação 2 de A cega e a negra, observe as seguintes situações de uso do pronome oblíquo átono:

  • O pronomes oblíquos átonos podem ficar posicionados antes ou depois do verbo. Antes em: “as unia”, “lhe deram”, “se apresentaram”, “a intrigava”, “os soubesse” e em “a colocara”. Depois do verbo em: “unia-se“, “igualou-se” e “chamava-a
  • Quando os pronomes oblíquos átonos são colocados depois do verbo, deve-se acrescentar o hífen [ – ] para separar o verbo do pronome, respeitando a estrutura: verbo + hífen [ – ] + pronome oblíquo átono. Como em “uniase” e “chamavaa“.
  • Não se utiliza espaçamento entre a combinação verbo + hífen+pronome oblíquo átono

A pronúncia

A pronúncia do pronome oblíquo átono é mais fraca, conforme o próprio nome “átono” já revela: a (sem) + tônico (maior intensidade sonora). Ou seja, não possui intensidade na pronúncia, em relação a outras sílabas próximas.

Em “chamava-a”, por exemplo, a tonicidade recai na sílaba “ma”:

cha – MA – va – a.

Ao passo que a pronúncia do pronome oblíquo “a” perde intensidade ao se unir ao som da sílaba “-va”.

Pronome Oblíquo Tônico

No caso dos oblíquos tônicos, eles sempre vêm acompanhado de uma preposição. Sabendo disso, vamos tentar reescrever a citação de A cega e a negra trocando os pronomes oblíquos átonos por tônicos. Para manter a coerência do texto, é preciso fazer modificações na estrutura do texto.

Por exemplo, o texto:

“Chamava-a assim [de Flora] por nunca ter entendido o porquê do nome Floresta Brasileira que lhe deram.” (com pronomes oblíquos átonos)

pode ser reescrito da seguinte maneira:

“Chamava a ela [Flora] assim por nunca ter entendido o porquê do nome Floresta Brasileira que deram a ela [Flora]”. (com pronomes oblíquos tônicos)

Isto é, a combinação é feita pela preposição “a” + o pronome oblíquo tônico “ela”. Em outras palavras, podemos afirmar que Cecília chama a alguém, ou que Cecília chama a Flora, ou que Cecília chama a ela [Flora].

Observação:
Para evitar repetição, é possível fazer as seguintes variações:

  1. Chamava a Flora assim por nunca ter entendido o porquê do nome Floresta Brasileira que deram a ela [Flora]”
  2. Chamava a ela assim por nunca ter entendido o porquê do nome Floresta Brasileira que deram a Flora

Veja, abaixo, a tabela com os pronomes oblíquos átonos e tônicos:

NúmeroPessoaÁtono (sem preposição)Tônico (com preposição)
Singularmemim / comigo
teti /contigo
lhe / o / a / seele / ela / si / consigo
Pluralnosnós / conosco
vosvós / convosco
lhes / os / as / seeles / elas / si / consigo
Pronomes pessoais oblíquos

Referências:

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