Diferenças de sentido entre o Pretérito Perfeito e o Pretérito Imperfeito do Indicativo

A palavra “pretérito” possui o mesmo significado que passado. No caso do tempo verbal, diz-se “pretérito perfeito” porque o tempo expressa algum acontecimento tendo iniciado e encerrado no passado.

Por exemplo, vejamos como o pretérito perfeito é empregado no fragmento do conto “Era uma vez…”, presente no livro O Sítio do Pica-pau Amarelo: Reinações de Narizinho (volume 1), de Monteiro Lobato, abaixo:

Uma vez, depois de dar comida aos peixinhos, Lúcia sentiu os olhos pesados de sono. Deitou-se na grama com a boneca no braço e ficou seguindo as nuvens que passeavam pelo céu, formando ora castelos, ora camelos. E já ia dormindo,embalada pelo mexerico das águas, quando sentiu cócegas no rosto. Arregalou os olhos: um peixinho vestido de gente estava de pé na ponta do seu nariz.

Citação 1. Fonte: http://www.miniweb.com.br/cantinho/infantil/38/Estorias_miniweb/lobato/Vol1_Reinacoes_de_Narizinho.pdf

Perceba que os verbos destacados no fragmento acima se referem a ações que iniciaram e terminaram no passado. Isto é, não transmitem ideia de ação contínua nem rotineira.

Agora, vamos avaliar um outro fragmento do conto, só que agora destacando os verbos que estão no pretérito imperfeito.

Vestido de gente, sim! Trazia casaco vermelho, cartolinha na cabeça e guarda-chuva na mão — a maior das galantezas! O peixinho olhava para o nariz de Narizinho com rugas na testa, como quem não está entendendo nada do que vê.

Citação 2. Fonte: http://www.miniweb.com.br/cantinho/infantil/38/Estorias_miniweb/lobato/Vol1_Reinacoes_de_Narizinho.pdf

Nas palavras destacas acima, os verbos estão no pretérito imperfeito, de modo que apresentam uma sutil mudança no sentido (em relação ao pretérito perfeito): os verbos ainda relatam ações que ocorreram no passado, porém agora expressam noções de que os acontecimentos têm uma durabilidade, ou melhor, continuidade no tempo.

Ou seja, enquanto o pretérito perfeito expressa o passado com um sentido definitivo, o pretérito imperfeito transmite a ideia de que a ação mantém um hábito.

Para entendermos como essa mudança de sentido ocorre na prática, vamos substituir a primeira citação (com pretérito perfeito) para o pretérito imperfeito:

Pretérito Perfeito (original)

Uma vez, depois de dar comida aos peixinhos, Lúcia sentiu os olhos pesados de sono. Deitou-se na grama com a boneca no braço e ficou seguindo as nuvens que passeavam pelo céu, formando ora castelos, ora camelos. E já ia dormindo, embalada pelo mexerico das águas, quando sentiu cócegas no rosto. Arregalou os olhos: um peixinho vestido de gente estava de pé na ponta do seu nariz.

Citação 1. Fonte: http://www.miniweb.com.br/cantinho/infantil/38/Estorias_miniweb/lobato/Vol1_Reinacoes_de_Narizinho.pdf

Na versão original, entendemos que Lúcia sentiu os olhos pesados de sono apenas uma vez. O sentido não possui continuidade ou frequência.

Pretérito Imperfeito (modificado)

Uma vez, depois de dar comida aos peixinhos, Lúcia sentia os olhos pesados de sono. Deitava-se na grama com a boneca no braço e ficava seguindo as nuvens que passeavam pelo céu, formando ora castelos, ora camelos. E já ia dormindo,embalada pelo mexerico das águas, quando sentia cócegas no rosto. Arregalava os olhos: um peixinho vestido de gente estava de pé na ponta do seu nariz.

Citação 1 modificada. Fonte: http://www.miniweb.com.br/cantinho/infantil/38/Estorias_miniweb/lobato/Vol1_Reinacoes_de_Narizinho.pdf

Já a versão modificada transmite a ideia de que Lúcia sentia, habitualmente, os olhos pesados de sono. Ou seja, há uma frequência.

Pretérito Perfeito = Ação finalizada

Sobre o uso do pretérito perfeito, o sentido de ação finalizada se mantém nas orações a seguir:

  • Deitou-se na grama com a boneca no braço”
  • ficou seguindo as nuvens que passeavam pelo céu”
  • sentiu cócegas no rosto.”
  • Arregalou os olhos”

Pretérito Imperfeito = Ação contínua ou habitual

Já sobre o uso do pretérito imperfeito nas orações abaixo, o sentido de ação dura no tempo, expressa um hábito:

  • Deitava-se na grama com a boneca no braço”
  • ficava seguindo as nuvens que passeavam pelo céu”
  • sentia cócegas no rosto.”
  • Arregalava os olhos”
  • “um peixinho vestido de gente estava de pé”

O que significa “indicativo”?

Tanto o pretérito perfeito quanto o pretérito imperfeito abordados aqui estão no modo indicativo. Os verbos no indicativo expressam noção de um fato ou ação atual, ao passo que possui uma verdade ou certeza.

Logo, é um fato, é uma certeza que:

  • Lúcia sentiu os olhos pesados de sono (aconteceu uma vez)
    ou que
  • Lúcia sentia os olhos pesados de sono (acontecia com frequência)

Assim, a palavra “indicativo” remete ao que indica. Do verbo “indicar”: mostra ou orienta algo. É um indício.

Vamos exercitar

Leia o fragmento do conto “A costureira das fadas”, presente no livro O Sítio do Pica-pau Amarelo: Reinações de Narizinho (volume 1), de Monteiro Lobato, abaixo:

Depois do jantar o príncipe levou Narizinho à casa da melhor costureira do reino. Era uma aranha de Paris, que sabia fazer vestidos lindos, lindos até não poder mais! Ela mesma tecia a fazenda, ela mesma inventava as modas.

— Dona Aranha — disse o príncipe — quero que faça para esta ilustre dama o vestido mais bonito do mundo. Vou dar uma grande festa em sua honra e quero vê-la deslumbrar a corte.

Disse e retirou-se. Dona Aranha tomou da fita métrica e, ajudada por seis aranhinhas muito espertas, principiou a tomar as medidas. Depois teceu, depressa,depressa, uma fazenda cor-de-rosa com estrelinhas douradas, a coisa mais linda que se possa imaginar.

Teceu também peças de fitas e peças de renda e peças de entremeio — até carretéis de linha de seda fabricou.

Citação 3. Fonte: http://www.miniweb.com.br/cantinho/infantil/38/Estorias_miniweb/lobato/Vol1_Reinacoes_de_Narizinho.pdf

(clique sobre as perguntas para ver as respostas)

Depois do jantar o príncipe levou Narizinho à casa da melhor costureira do reino. Era uma aranha de Paris, que sabia fazer vestidos lindos, lindos até não poder mais! Ela mesma tecia a fazenda, ela mesma inventava as modas.

— Dona Aranha — disse o príncipe — quero que faça para esta ilustre dama o vestido mais bonito do mundo. Vou dar uma grande festa em sua honra e quero vê-la deslumbrar a corte.

Disse e retirou-se. Dona Aranha tomou da fita métrica e, ajudada por seis aranhinhas muito espertas, principiou a tomar as medidas. Depois teceu, depressa, depressa, uma fazenda cor-de-rosa com estrelinhas douradas, a coisa mais linda que se possa imaginar.

Teceu também peças de fitas e peças de renda e peças de entremeio — até carretéis de linha de seda fabricou.

Depois do jantar o príncipe levou Narizinho à casa da melhor costureira do reino. Era uma aranha de Paris, que sabia fazer vestidos lindos, lindos até não poder mais! Ela mesma tecia a fazenda, ela mesma inventava as modas.

— Dona Aranha — disse o príncipe — quero que faça para esta ilustre dama o vestido mais bonito do mundo. Vou dar uma grande festa em sua honra e quero vê-la deslumbrar a corte.

Disse e retirou-se. Dona Aranha tomou da fita métrica e, ajudada por seis aranhinhas muito espertas, principiou a tomar as medidas. Depois teceu, depressa, depressa, uma fazenda cor-de-rosa com estrelinhas douradas, a coisa mais linda que se possa imaginar.

Teceu também peças de fitas e peças de renda e peças de entremeio — até carretéis de linha de seda fabricou.

Ditado

O ditado será feito a partir da gravação disponível no site tocalivros e a revisão por meio da comparação com o texto original. Ambos os links estão disponíveis na postagem: https://portugues.fernandamaia.com/sitio-do-picapau-amarelo-de-monteiro-lobato/

Para praticar o pretérito perfeito e imperfeito do indicativo com ditado, siga estas orientações:

Preparação
  • Acesse a página do tocalivro para realizar o cadastro e ouvir a gravação do audiolivro O Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato. Tanto o cadastro quanto a audição do livro são gratuitos. Após o cadastro, clique em Comprar e, em seguida, Ouvir
  • Do lado esquerdo, aparecerá um playlist com as gravações dos contos do livro

Escrevendo o ditado
  • O ditado será feito a partir do primeiro conto, “As jabuticabas”
  • Comece o ditado do início da gravação até 1min50seg
  • Pause, volte e reinicie a gravação quantas vezes forem necessárias para escrever o ditado
  • Tente se concentrar nos verbos que possam estar no pretérito perfeito e imperfeito do indicativo

Revisando o ditado
  • Acesse o link do pdf do livro O Sítio do Pica-pau Amarelo: Reinações de Narizinho (volume 1), de Monteiro Lobato. O conto “As jabuticabas” está disponível na pagina 20.
  • Revise o texto comparando o seu ditado com o texto original do pdf
  • Tente identificar quais verbos estão no passado
  • Em seguida, classifique os verbos que estão no passado em pretérito perfeito ou imperfeito do indicativo

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